AS MANIFESTAÇÕES SOBRE MORO E O USO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
No dia 30 de junho de 2019
assistimos a manifestações a favor do hoje Ministro e ex-juiz Sérgio Moro, que
ocorreram em várias capitais e cidades brasileiras.
Como vivemos e acompanhamos os
fatos em Ilhéus, tendo assistido pessoalmente à manifestação pró Moro quando a
mesma passou em frente ao local onde resido, a tentação de fazer uma avaliação
quanto ao tamanho, número de carros, composição de pessoas e outros detalhes é
grande, mas resistiremos a ela em nome de um objetivo maior: analisar o que
cabe ou não no atual momento por que passa o Brasil.
É necessário deixar claro, em
primeiro lugar, que o direito de manifestar-se nas ruas é legítimo e está
previsto legal e constitucionalmente. Afinal de contas, ainda temos traços de
democracia, embora enfraquecidos, e este direito deve ser defendido e
preservado.
Entretanto, diante da
gravidade da conduta imputada ao então Juiz Sérgio Moro, cabem reflexões mais
amplas. Vejamos.
Um dos requisitos legais mais
sagrados na atuação de um juiz de Direito é sua imparcialidade. Os advogados
têm a atribuição de defender a uma das partes e, no processo penal, cabe à
promotoria a função de acusar. É assim que deve e tem que funcionar o Poder
Judiciário, no Brasil e em qualquer lugar do mundo, para que se busque fazer
Justiça!
Quando um Juiz de Direito pende
para um dos lados em disputa judicial, ajudando a defesa ou a promotoria,
acaba-se a imparcialidade do Juiz. É exatamente isso que as recentes denúncias
veiculadas pelo site Intercept têm nos mostrado, que o Juiz Moro, ao julgar o Presidente
Lula, teria orientado à Promotoria quanto à seleção de testemunhas, de
procedimentos acusatórios, de quem deveria ou não ser denunciado pelo
Ministério Público, das provas a serem produzidas nos autos, enfim, teria
atuado decisivamente em favor da Acusação, atos que resultam, obviamente, na
condenação de qualquer réu.
O momento, ante a gravidade da
conduta imputada ao ex juiz Moro, não seria de apoio, mas de exigir que todas
as denúncias sejam rigorosamente apuradas, para que não paire dúvidas sobre a
conduta do magistrado, que caso se mostre tendenciosa, deve resultar na
anulação de todo o processo e em seu retorno à Primeira Instância, para que
possa ser julgado por um Juiz imparcial, como a lei exige.
Apoiar Moro neste momento, com
atos públicos na rua, soa tão desarrazoado quanto apoiar aos policiais
militares de São Paulo acusados de estuprar dentro da própria viatura uma jovem
que lhes pediu auxílio, ou apoiar ao sargento da Aeronáutica flagrado na
Espanha, durante a viagem oficial do Presidente da República, com 39 quilos de cocaína em sua mala. Tais momentos não são de apoio,
mas de rigorosa apuração dos fatos para eventual responsabilização de eventuais
crimes ou desvios de conduta, inclusive para salvaguardar as importantes
instituições de que os acusados são membros.
Apoiar incondicionalmente, nas
ruas, com atos políticos, a Juízes e outros agentes públicos que são acusados
das mais graves e torpes condutas, pode funcionar como uma licença para que
novos abusos, ilegalidades e crimes sejam cometidos por servidores públicos,
inclusive sob pretexto de cumprir a lei.
Neste momento precisamos de
equilíbrio, de sensatez. Não é hora de usar a liberdade de expressão para
alimentar aquilo que jamais deveria ser admitido.
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