A FELICIDADE DOS OUTROS INCOMODA OU É RACISMO MESMO?
A necessidade de nos
conduzirmos de forma equilibrada nos faz pensar antes de agir e, às vezes,
esperar um pouco para não atuar sob o império absoluto da emoção, que pode
fugir ao controle. Por isso, foi necessário deixar passar algum tempo para que
os fatos se consolidassem e as ideias e emoções pudessem se firmar no patamar
devido, para só depois escrever sobre o episódio recente do veto do Presidente
Bolsonaro acerca da propaganda do Banco do Brasil que ele, no mês de abril de 2019,
se deu ao trabalho de fazer pessoalmente.
O comercial, destinado
sobretudo à mídia televisiva, já vinha sendo amplamente veiculado e trazia a
maioria de atores jovens, com cerca de 50% deles negros, com roupas e atitudes
típicas de jovens, vivendo a empolgação de abrir, via aplicativo de celular,
uma conta no Banco do Brasil.
Bolsonaro não se limitou a
retirar a propaganda do ar: mandou demitir o diretor de Comunicação e Marketing
do Bando do Brasil, Delano Valentim, e determinou que a Secretaria de
Comunicação da Presidência da República passasse a rever para autorizar, ou não,
todas as propagandas de órgãos com participação do Governo Federal, em uma
decisão contrária à lei que dá autonomia às estatais.
A ordem emanada da Presidência
soa como uma bofetada sobre a diversidade racial que caracteriza o povo
brasileiro. O que se pode perceber é que a forte presença de jovens negros, em
atitude descolada, voltada para a linguagem e valores da juventude de hoje,
desagradou muitíssimo ao Presidente, a ponto de o mesmo intervir pessoalmente,
mandando retirar a peça publicitária.
Ver jovens negros felizes,
tirando selfies, dançando e vivendo a alegria de abrir a conta bancária via
aplicativo parece ter sido demais para a cabeça do Presidente. Talvez ele
entenda que jovens negros só devam figurar no noticiário policial, ou servir
para o deleite sexual de turistas estrangeiros ou, no máximo, exercendo um
trabalho extremamente subalterno e desimportante. Mais do que isso deve ser
proibido!
A decisão presidencial dói em
nossa alma de brasileiro. Aqueles jovens da propaganda são – para mim que sou
branco - iguais a nossos filhos, a nossos sobrinhos, a muitos de nossos amigos.
São iguais aos alunos da escola pública onde leciono há mais de 25 anos,
lutando para que eles alcancem uma condição melhor em suas vidas. Vetar aos
jovens daquela propaganda significa fechas as portas a nossos descendentes mais
queridos, aos jovens da periferia. Significa dizer que no “novo Brasil” não há
lugar “para aquele tipo de gente”.
É muito, muito triste termos
um Presidente que não consegue olhar para a cara de seu próprio povo, sobretudo
jovem e pobre, sem uma feroz expressão de repulsa e uma atitude de veto
institucional. Um presidente que não ama, que não se identifica, que não quer
nem ver a cara da juventude de seu país. E que, efetivamente, tudo faz e fará
para que estes jovens permaneçam esquecidos no gueto, de onde nunca deveriam
ter saído.
A atitude de Bolsonaro,
devemos reconhecer, é coerente com tudo o que ele pregou durante a campanha:
cortar, extinguir, afastar, reprimir, acabar com “essa bagunça”. E povo negro
dançando feliz só pode ser sinônimo de bagunça.
Triste Brasil, que despreza e
excluí seu próprio povo, na pessoa de seu mandatário maior, em um ato que para
muitos expressa um racismo mal dissimulado por palavras, mas que se revela nos
atos e no olhar frio de quem só tem para oferecer, aos nossos jovens negros da
periferia, a ação repressiva da polícia e a mais severa exclusão social.
Por fim, peço ao prezado
leitor que não acredite somente nas palavras deste articulista. Vá para a
internet e assista ao vídeo do Banco do Brasil (https://youtu.be/SSijcl63DLI). São
apenas exatos 30 segundos. Veja com quem se parecem os jovens que estão no
vídeo, e tire suas próprias conclusões.
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