O DISCURSO DE BOLSONARO NA ONU

Bolsonaro discursa da tribuna da ONU, em 24/09/2019, na abertura da Assembleia.

Todos nós assistimos com expectativa, no dia 24/09/2019, ao discurso de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, situada em Nova York (EUA), que tradicionalmente é feito pelo Presidente do Brasil.
Quem esperava ver um Bolsonaro inseguro, se decepcionou, pois o Presidente, sentindo que era o centro das atenções do mundo inteiro naquele momento, leu seu discurso com assertividade, em alto e bom som.
Porém quem esperava algum avanço para melhorar as relações do Brasil com o resto do mundo ficou igualmente decepcionado, pois o Presidente utilizou exatamente as mesmas ferramentas que manejou durante a campanha eleitoral: a mentira, o ataque a terceiros, a insensibilidade grosseira e a discriminação.
Utilizou a mentira quando sugeriu que as queimadas na Amazônia foram frutos do verão e dos costumes tradicionais indígenas, e ao dizer que se esforçava para preservar o meio ambiente, em um governo que impede o IBAMA de trabalhar, libera todos os tipos de agrotóxicos e tem amigos do agronegócio que são os principais acusados pelo Dia do Fogo e queimadas subsequentes nos biomas naturais brasileiros.
Mente também quando diz que governos anteriores (Lula e Dilma) tentaram implantar o socialismo no Brasil, pois os governos do PT, embora com políticas públicas mais populares, sempre se mantiveram estritamente dentro dos limites do capitalismo.
Por fim, mente de novo quando, sendo amigo de milicianos e tentando a todo custo barrar as iniciativas de investigação contra os que lhe são próximos, diz combater a corrupção.
Ataca a terceiros quando se refere a Cuba e a Venezuela como se fossem nossos grandes inimigos; e quando deixa indiretas para a Alemanha e a França, azedando ainda mais nossas relações políticas e econômicas com estes países, usando a velha tática de criar um inimigo externo para tentar justificar o autoritarismo interno.
Usa de grosseira insensibilidade quando põe em dúvida a formação dos médicos de Cuba que serviram no Brasil e não reconhece que, mesmo nas condições técnicas mais adversas, atenderam e salvaram a saúde e a vida de milhares, ou até milhões de brasileiros, durante os anos em que estiveram aqui.
Maneja também a discriminação, embora de menos explícita, quando fala de família e de valores cristãos, o que na concepção de Bolsonaro exclui severamente a homossexuais e a pessoas e famílias que fujam aos modelos estabelecidos pela sociedade tradicional.
Por fim, nenhuma referência à educação, nem à saúde, nem ao combate à pobreza, ou à exclusão social. É que para Bolsonaro estas questões não existem no Brasil, assim como não existe discriminação, violência por parte do Estado, nem pessoas em condição de extrema pobreza. E se houver algum problema nessa área, o atual Governo Federal tem uma única e certeira solução: chamar a polícia, de preferência aquela que age na mesma linha do governador Witzel, do Rio de Janeiro, para que ela resolva de forma mortal.
Os bolsonaristas, cegos a tudo isso, continuarão idolatrando seu “mito”, enquanto Bolsonaro retornará ao Brasil sem ter tido nem uma única reunião de trabalho ou compromisso oficial com nenhum outro Chefe de Estado ou de Governo, pois nenhum outro líder dos demais países presentes na Assembleia da ONU deseja ter sua imagem associada à do Hitler tropical e seu direitismo delirante.


Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Publicado no Blog do Gusmão em 25/09/2019.

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