A PRISÃO DE TEMER E A REFORMA DA PREVIDÊNCIA


Tenho visto o entusiasmo exacerbado, quase orgásmico, com que grande parte dos brasileiros recebeu a notícia da prisão do ex-presidente Michel Temer, ocorrida em 21/03/2019, transmitida com grande estardalhaço de cobertura midiática.

Para parte expressiva dos brasileiros esta prisão é recebida com sabor de vingança pessoal, com uma sensação de gozo íntimo que, se por um lado é compreensível, ante os malefícios político-administrativos que Temer perpetrou quando se encontrava na Presidência, por outro lado nada tem haver com um desejo sincero de apuração de fatos, delimitação dos eventuais crimes e imposição de uma pena justa, após um julgamento no qual o acusado possa exercer plenamente seu direito de defesa, de forma a termos uma sentença que esteja de acordo com a Lei e com a Justiça. Não é isso o que as pessoas demonstram desejar. Elas, simplesmente, parecem querer vingança, pouco importando todos os aspectos anteriormente citados.

Em seu frenesi vingativo, no qual o fígado e as emoções em desalinho facilmente impedem o raciocínio lógico e calam a voz da razão em nossas consciências, as pessoas, ao menos momentaneamente, deixaram de prestar atenção a uma outra questão que se mostra ainda mais importante, pelas consequências que trará em um futuro próximo: a reforma da Previdência.

Proposta pelo atual Governo Federal, a propalada reforma pretende instalar no Brasil o regime de capitalização que já fracassou no Chile, onde idosos se suicidam por não conseguir pagar suas contas. Neste modelo o governo e os patrões deixam de contribuir para a Previdência, que pesará unicamente nas costas dos trabalhadores, que deverão depositar em instituições privadas (bancos) seus recursos para a sonhada futura aposentadoria.

Como estamos no Brasil, nenhuma surpresa haverá se após 30, 40 ou 50 anos de contribuição o brasileiro vier a descobrir que o fundo de aposentadorias e pensões ou a empresa para a qual contribuiu durante anos simplesmente faliu no momento em que deveria começar a pagar a aposentadoria de quem ali depositou. Como ocorre aqui, o dinheiro simplesmente “sumiu”. Ninguém pagará por isso e quem depositou ficará, na velhice, exposto ao mais completo desamparo social, em situação de miséria e incapaz para o trabalho.

Se você duvida do quanto foi exposto acima, é bom lembrar-se do que ocorreu com a Aerus, que eram os fundos de pensão das grandes empresas aéreas Varig, Cruzeiro e Transbrasil. Quando a Varig parou de operar, em 2006, o fundo Aerus simplesmente não teve recursos para pagar aos trabalhadores que haviam contribuído. Desde então e até 2014, os aposentados e pensionistas do Aerus receberam somente 8% do valor a que teriam direito. Somente em 2014, após uma Decisão Liminar da Justiça Federal, conseguiram voltar a receber regularmente, o que só foi possível porque havia dívidas da União com a Varig, o que possibilitou a retomada dos pagamentos.

E se o fundo privado para o qual você vier a contribuir falir na hora de pagar sua aposentadoria, quem pagará sua aposentadoria, ou a pensão aos dependentes?

Por tudo isso, antes de pular de alegria com a prisão do caquético e ultrapassado Temer, pense na sua aposentadoria, na pensão destinada ao cônjuge sobrevivente e aos filhos menores, pense na aposentadoria de seus filhos, que provavelmente nunca ocorrerá ou resultará em um valor de aposentadoria miserável, inferior a um salário mínimo, de acordo com as novas regaras.

E pense, sobretudo, que desabando a miséria e a necessidade sobre as pessoas que amamos, tais como nossos filhos, daqui a alguns anos nós não estaremos mais aqui. Já teremos morrido, e não poderemos ajudá-las em absolutamente nada.

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