CARNAVAL EM ILHÉUS, UM OLHAR ANTENADO
Centro de Ilhéus, Bahia, com destaque para a Catedral de São Sebastião |
Nesta Ilhéus sem programação oficial de
Carnaval, a folia do Rei Momo resiste! Bloco das Muquiranas e do Zé Pereira no
Pontal, entre outros. Blocos no bairro Teotônio Vilela. Grito de Carnaval na
praça da Urbis e Bloco no Eixo Principal do Bairro Hernani Sá. O povo da cidade
brinca com pode, porque isso vem de dentro de nós, de nossa cultura, de nossa
identidade mais intrínseca e subjetiva: não há Bahia sem Carnaval!
Há anos acompanho, como partícipe e, às
vezes, como protagonista, a evolução do Carnaval em nossa cidade. Lembro, em
Ilhéus, das Escolas de Samba, dos primeiros Blocos Afros, do inesquecível Trio
Elétrico Iemanjá, presença obrigatória em todas as festas, seja no Carnaval, disputando
espaço com trios vindos da Capital, seja nos comícios (a legislação da época
permitia o uso de atrações artísticas) e em todas, todas as festas públicas ilheenses.
Já tivemos aqui, tempos atrás, grandes
carnavais com atrações de peso vindas de Salvador, pagas pelo Poder Público; ou
nos momentos em que blocos mais chiques, como o Sfrega, marcaram época. Recordo
e analiso tudo isso, com olhos de um cidadão-folião de 53 anos de idade, o que
se passou e se passa em nossa cidade.
Não com crítica ácida, nem com objetivos
eleitoreiros, mas com amor e desejo de ver Ilhéus crescer, afirmo sem medo que é
simplesmente inadmissível que Ilhéus não tenha uma programação oficial de Carnaval,
que não possua uma agenda carnavalesca ampla, eficaz, organizada pelo Poder
Público e divulgada com anos de antecedência para fortalecer nossa economia, nosso
turismo e nossa identidade cultural diante do Brasil.
Claro que não cabe mais gastar milhões
de dinheiro público para contratar grandes artistas, quando tudo que é público no
Município de Ilhéus padece e míngua, quando se alega não poder pagar nem mesmo os
salários dos servidores municipais. Não é isso que o povo e a sociedade querem.
Mas gestões municipais anteriores,
inclusive a do ex-prefeito Jabes Ribeiro - com quem não tenho nenhuma afinidade,
nem simpatia política - provaram que é possível fazer um bom carnaval gastando
pouco, como se fazia com o chamado Carnaval Cultural, com atrações e trios regionais,
e com palcos diversos, para atender a gostos diversos.
Itabuna, Vitória da Conquista e outras
cidades da Bahia talvez possam ficar sem fazer Carnaval. Mas Salvador, Porto
Seguro, Ilhéus e Itacaré, Municípios com forte vocação turística e cultura
marcantes, simplesmente não podem se dar a esse luxo. Não fazer carnaval nestes
municípios é um verdadeiro crime, contra a economia, contra a Cultura, contra o
povo!
Fazendo um contraponto, vale ressaltar,
aqui, alguns acertos recentes da atual administração, tais como encerar as
festas públicas sempre mais cedo, pois não adianta termos uma festa seguida de
velórios em diversas famílias. A violência generalizada que vivemos hoje impõe
limites que devem ser observados. Outro acerto foi, neste ano, nada cobrar, nem
impedir que ambulantes armassem barracas na Avenida Soares Lopes para ganhar
algum trocado. Se o Município quase nada oferece, também nada deve cobrar.
Há, também, equívocos a serem corrigidos
de imediato, tais como ausência ou presença insuficiente da Setram (agentes de
trânsito) quando da passagem de diversos blocos pelos bairros; e o impedimento,
por parte da Polícia Militar e por ordem do Poder Público Municipal, de que o mini
trio que no domingo acompanhava o mix de blocos afros entrasse na Avenida
Soares Lopes logo após 22:00 horas, coibindo e cerceando abusivamente uma
manifestação cultural legítima de nosso povo, ligada às nossas raízes africanas.
Mas o erro mais grave de todos, que vem
sendo cometido gestão após gestão, é omitir-se de realizar o carnaval na terra
de Gabriela e de Jorge Amado, é não ter uma política pública voltada para isso.
É um erro estratégico, fatal, em um município com vocação turística, que
deveria, no primeiro ano de governo de cada prefeito, divulgar a programação de
carnaval dos próximos quatro anos para todos os órgãos públicos e privados
voltados para o turismo, no Brasil inteiro.
Por fim, não pense que esta mensagem
seja para o atual Governo Municipal, que só terá mais um carnaval à sua frente.
Afirmo isso principalmente para quem vier a governar Ilhéus nos próximos anos,
seja lá quem for, de que partido for. Chega de jogar oportunidades na lata de
lixo.
Publicado no Blog do Gusmão em 06/03/2019.
Publicado no Blog do Gusmão em 06/03/2019.
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