UMA DECISÃO ACERTADA DO STF: NÃO AO ENSINO DOMICILIAR, OU HOMESCHOOLING
Em data recente o STF –
Supremo Tribunal Federal decidiu, após votação em que ficou bem definida a
posição da maioria de seus membros (oito votos contra dois), decidiu pelo não reconhecimento
da possibilidade de realização de ensino domiciliar no Brasil, como forma de
substituir a formação escolar.
A votação se deu a partir de
uma questão surgida no Rio Grande do Sul, onde os pais de uma menina queriam
ensiná-la exclusivamente em casa, mas a Secretária de Educação do Município
gaúcho onde reside a criança negou o pedido, orientando os pais a matricular a
filha em uma escola. Os pais recorreram contra a decisão da Secretaria, mas
perderam tanto em Primeira como em Segunda Instância, e a questão foi parar no
STF, nossa mais alta Corte de Justiça, que tem como principal atribuição
salvaguardar a Constituição Federal.
Não se trata aqui de esmiuçar
as razões técnicas, nem tão-somente jurídicas, do voto de cada Ministro(a) do
STF que decidiu pela impossibilidade de reconhecimento do ensino domiciliar. Todos
foram solidamente bem embasados nas razões de seus votos, que em linhas gerais
se basearam na inexistência de previsão legal para o ensino domiciliar, na
ausência de mecanismo de avaliação e controle para esta modalidade de ensino e
no fato de a Educação ser dever do Estado, sendo obrigação dos pais matricular
o filhos e fazê-los frequentar a escola, conforme se encontra definido na
Constituição.
O que se pretende aqui é uma
outra abordagem sobre este mesmo tema, a ser feita da seguinte forma.
Mesmo que determinados pais
tenham muita cultura, ou mesmo bastante dinheiro para ensinar diretamente ou
para contratar aos melhores professores particulares para ensinar a seus filhos
em casa, pergunta-se: o que substitui, para uma criança, a emoção e a surpresa
do primeiro dia de aula?
Como substituir o contato com
os coleguinhas da mesma idade, a atenção das primeiras professoras, ainda hoje
carinhosamente chamadas de “tias”?
O que ficaria no lugar da
experiência de pedir algo emprestado ao colega do lado, de responder a uma
questão em conjunto, de fazer algo no quadro ou à frente da sala sob o olhar
desafiador, curioso e expectante de toda a turma?
Onde encontrar, senão na Escola,
a emoção da primeira “paixão”, daquele(a) colega que desperta o primeiro
interesse afetivo de cunho sexual em cada um de nós, o primeiro amor platônico,
cheio de desejo e medo, na maioria das vezes sem jamais passar disso, mas sem
nunca ser esquecido?
Como privar uma criança das
brincadeiras do recreio, da hora da merenda, do retorno para a sala, da chegada
ou saída juntos da escola, da liberdade de poder transformar o coleguismo de
sala em nossas primeiras grandes amizades?
Não, não privemos nossas
crianças da escola, sobretudo no mundo de hoje, quando a violência e os
excessos da vida urbana já roubaram de nossas crianças o banho de rio, o subir
nas árvores, o futebol no terreno baldio, as andanças às escondidas e quase
todas as aventuras da infância...
O grande espaço de
socialização, de aventura, de amizade, de interesse pelo(a) outro(a), de
descoberta da vida social com os iguais da mesma idade é a Escola, na frequência
escolar, com toda a sua diversidade e riqueza.
Não temos o direito de tirar,
de nossos filhos, a Escola. Porque não deve e não pode haver criança sem Escola.
É lá que elas começam a se libertar de nós, a criar suas próprias relações
sociais, e temos de entender que as criamos para a vida, para o mundo, e não para
nós mesmos.
Os pais que amam, muitas
vezes, derramam lágrimas ao levar seu filho ou filha amada pela primeira vez
para a Escola, com merendeira, caderno e brinquedo dentro da mochila. Mas é
ali, com aquelas primeiras lágrimas, que forjamos o seu futuro.
Todas as crianças na escola, para
o bem delas mesmas, sem exceção!
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