AS COMEMORAÇÕES DO GOLPE DE 1964 E O FUTURO DO BRASIL
A nação brasileira teve, na
semana passada, a inusitada notícia de que, por determinação do atual
Presidente da República, o Ministério da Defesa - e portanto, as forças armadas
- deveriam voltar a comemorar a data de 31 de março de 1964, quando foi desencadeado
o golpe militar que derrubou o governo do então presidente João Goulart e
instalou no Brasil uma ditadura que duraria por 21 anos.
A comemoração do golpe, que já
foi chamado de Revolução de 1964, havia sido excluída do calendário oficial de
comemorações das forças armadas, e do Estado brasileiro, por ordem da
Presidente Dilma Rousseff, no ano de 2011.
O retorno das comemorações determinado
por Bolsonaro, que chegou a ser suspenso por meio de uma decisão liminar de uma
Juíza da 6ª Vara da Justiça Federal em Brasília, deferida a requerimento da
Advocacia Pública da União, acabou sendo posteriormente autorizado em virtude
da decisão de uma Desembargadora da Justiça Federal.
A comemoração do golpe de 1964
ainda é uma ferida aberta na sociedade brasileira. Sem dúvida acirra ânimos, soa
como provocativa e inconveniente no delicadíssimo momento em que vive o Brasil.
Parece que os problemas que temos são poucos, e que por isso fomos em busca de
mais alguns.
Hoje, com a consciência que
temos acerca da História e dos valores humanos, a comemoração de algumas datas
deveria de fato ser revista, ou pelo menos ter seu caráter modificado, moderado
e ressignificado.
Ao invés de comemorar o Dia D,
data do desembarque das tropas aliadas na Normandia em 1944, durante a Segunda
Guerra Mundial; ou a rendição incondicional das tropas alemãs para os
comunistas em Stalingrado, em 1942 - a primeira derrota imposta ao até então
invencível Exército nazista - seria muito mais inteligente e sensato
comemorarmos o dia 08 de maio de 1945, data em que a Guerra terminou na Europa,
ou o 02 de setembro, data oficial do fim do conflito no Oriente, que marcou o
fim do pesadelo chamado Segunda Guerra Mundial, estancando o desastre que
ceifou cerca de 70 milhões de vidas.
Nada temos a comemorar com
relação ao golpe de 31 de março de 1964, e menos ainda quanto ao que ocorreu
depois dele: prisões, deportações, exílio, cassações, luta armada, atentados, sequestros,
torturas, execuções. Se é certo que nada disso deve ser jamais esquecido, igualmente
certo é que também não deve ser comemorado, por nenhum dos lados, por ninguém.
Se devemos comemorar algo,
vamos então juntar o país e celebrar o retorno do país à Democracia, marcado em
datas como as de aprovação e realização de eleições diretas para Presidente, a
de Convocação e eleição direta da Assembleia Nacional Constituinte, a posse do primeiro
Presidente eleito ao fim da ditadura mediante o voto direto do povo e,
sobretudo, o dia 05 de outubro de 1988, data em que foi promulgada a atual Constituição
Federal – democrática, moderna, garantista, cidadã - que marca o retorno ao
Estado de Direito, à Democracia, ao império, mesmo que frágil, das leis, em
direção a um futuro promissor de paz, desenvolvimento econômico e busca de
inclusão social.
Esta deve ser a pauta para o
futuro: inclusiva, solidária, positiva. Sem esquecer, porém sem jamais
comemorar tudo aquilo que tanto nos infelicitou.
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