O SEMEADOR DE ÓDIO
Com a campanha eleitoral para
a Presidência da República ocorrida em 2018, na qual se elegeu o então
candidato Jair Bolsonaro, tornou-se muito mais visível a sistemática e desumana
conduta de enaltecer e espalhar o ódio, nas mais diversas formas, locais e
grupos, que foi usada como estratégia para obtenção da vitória pelo candidato e
pelo grupo que o apoiou naquele pleito.
Ódio contra mulheres. Ódio
contra pessoas de esquerda. Ódio contra gays e lésbicas. Ódio contra indígenas.
Ódio contra pobres. Ódio contra negros. Ódio contra analfabetos. Ódio contra
nordestinos. A tempestade de ódio parece não ter fim, nem limites.
Para os que esperavam que a
razão, ou ao menos a dissimulação, trouxessem um ambiente de paz após a
campanha e a posse do atual Presidente, a realidade mostrou-se de forma oposta:
na Presidência, as manifestações mais abjetas e vulgares continuaram sem
tréguas, apesar do enorme esforço de assessores e grupos palacianos para
filtrar ou minorar os efeitos das loucuras do atual mandatário maior de nosso
hoje tão malfadado país.
A torrente irrefreável de
ódio, aliada a despreparo e irresponsabilidade, propiciou a falta de
governabilidade que se transforma, cada vez mais, em crise e instabilidade
política gravíssima, com efeitos econômicos e políticos dentro e fora do
Brasil, já que assistimos à deterioração das relações políticas e econômicas do
Brasil com relação a outros países e órgãos ou instituições políticas
internacionais, como vem ocorrendo com relação à China, ao Chile, ao Paraguai,
à França, aos países árabes e ao Acordo de Paris, todos sob feroz ataque da
verborragia inconsequente do atual Presidente.
O clima de intolerância, maus
sentimentos, maus desejos e de ânsia para que algo de ruim aconteça ao outro
contaminou até mesmo nossas relações familiares, nossas amizades de infância e
nossas relações de trabalho. Hoje apenas toleramos uns aos outros. Os
bolsonaristas fazem enorme esforço para nos tolerar, pois muitos dos mais
entusiasmados gostariam de nos ver torturados nos paus de arara da ditadura
instaurada em 1964, e depois desaparecidos ou enterrados como indigentes, já
que nos consideram inimigos do Brasil. E as pessoas do campo democrático e de
esquerda, quando não nutrem sentimento semelhante de ver trucidados seus atuais
antagonistas, ou se perdem na depressão ou se encastelam na cordialidade estritamente
necessária para que uma convivência mínima seja possível.
O ódio, como se vê, não produz
somente prejuízo institucional e econômico. Ele também envenena as relações
pessoais, mesmo as mais íntimas ou as que deveriam ser mais formais e
respeitosas, acanalhando a vida e o dia a dia de quase todos nós.
O Brasil optou pela
intolerância, pelo ódio, pela insensatez, pela grosseria e pela estupidez,
entre outros adjetivos de tão triste significado. E o fez de forma
institucional, elegendo um excelente representante de tudo isto.
Espero que encontremos uma
saída disto tudo, talvez não tanto pelo Brasil, que parece perdido ou acabado,
mas por nós mesmos, para que possamos sobreviver e deixar para trás esta triste
página de nossa história que hoje vivenciamos, e voltar a ser pelo menos
amigos, colegas de trabalho, familiares, vizinhos, pessoas comuns vivendo em
paz, longe do ódio que Bolsonaro representa, exemplifica e dissemina, de forma
magistralmente competente.
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