FORA DA DEMOCRACIA NÃO HÁ SALVAÇÃO
Cada vez mais
tenho a plena convicção de que vivemos em um Estado de exceção, em que as leis,
a jurisprudência e as instituições democráticas quase nada valem, e valem cada
vez menos. Os fatos ocorridos em razão da disputa pela Presidência da República
e, mais recentemente, do pleito eleitoral para Presidente em 2018 consolidam
ainda mais este pensamento.
Primeiro
tivemos, no ano de 2016, a cassação de uma Presidenta eleita democraticamente
pela maioria dos brasileiros. Qual foi seu crime? A pedalada fiscal, que de
forma simplificada nada mais é do que deixar de contabilizar um repasse de
verbas para um banco ou órgão do governo em um determinado exercício financeiro
(em um ano) para contabilizar tal repasse no exercício seguinte (no ano
seguinte). Mas não há roubo, nem desvio, pois o dinheiro foi gasto segundo sua
destinação orçamentária, só que a despesa foi lançada no exercício seguinte.
Pois bem, com
base no artifício fiscal acima se desmoralizou, aviltou e cassou uma presidenta
eleita, em um país onde os políticos e gestores pegam as verbas públicas e
enfiam em seus bolsos, algo que Dilma jamais fez!
Em seguida,
veio a prisão do ex-presidente Lula com base, unicamente, na delação premiada
de pessoas que se encontravam presas e ameaçadas de pegar 30 ou 40 anos de
cadeia, e a quem era, na prática, oportunizado escapar das penas desde que
acusasse ao Lula.
Não houve
nenhuma prova material de crime cometido pelo ex-presidente. Não há nos autos
do processo prova alguma de que recursos oriundos da Petrobrás, ou de propinas,
tenham chegado até Lula. E quanto ao tríplex que a Sentença diz ser a vantagem
indevida recebida pelo Lula, era registrado em cartório de imóveis em nome de
uma grande construtora, que o vendeu posteriormente sem embaraço algum, porque
jamais foi do Lula.
Porém, após
uma condenação sem prova material nenhuma de cometimento de crime, Lula está
preso até hoje, e todos neste país sabem o real motivo da prisão: Se estivesse
livre, Lula ganharia as eleições e elegeria sólida base de deputados, senadores
e governadores nos diversos estados brasileiros.
Nesse ínterim,
no exacerbado clima de ódio criado pela Rede Globo e demais órgãos da imprensa
golpista, tivemos a brutal execução da vereadora Marielle Franco e de seu
motorista no Rio de Janeiro; tivemos os tiros contra a caravana de campanha do
ex-presidente Lula e contra o acampamento montado em frente ao local onde Lula
está preso e, por fim, assistimos ao deplorável atentado mediante uma facada no
candidato à Presidência que à época liderava com vantagem as intenções de voto
para Presidente, Jair Bolsonaro.
A violência
deixou de ser verbal, deixou de ser contra a Justiça, contra as leis, e passou
a tentar e a conseguir matar pessoas.
Uma grande
pergunta emerge deste contexto de violência contra tudo e todos: Se fazem isto
contra pessoas tão famosas e importantes quanto as citadas acima, o que não
farão contra um simples mortal como eu e você? Quanto vale a nossa vida frente
à sede insaciável de poder dos que agem assim? Se aqueles que defendem e usam a
violência se consolidarem no poder, o que não farão contra o primeiro cidadão
que ousar reclamar de qualquer coisa? O que não farão comigo e contigo?
Defender
solidamente a democracia parece ser a única opção correta. Não um simulacro de
democracia, mas uma democracia verdadeira, com instituições fortes e
consolidadas, com julgamentos justos, com leis eficazes, com pluralidade de
imprensa, com polícias que possam e consigam cumprir seus papéis e com o mais
sagrado respeito à vida humana por parte de todos.
Fora da
democracia não há espaço para a dignidade, e as vezes nem mesmo para a
continuidade da vida humana. E isto vale para a minha e para a sua vida.
Publicado em 25/09/2018 no Blog do Gusmão
Publicado em 25/09/2018 no Blog do Gusmão
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