MANIFESTAÇÕES DE 29/09: MUITO ALÉM DE BOLSONARO

Manifestação #EleNão em São Paulo, no Largo do Batata, em 29/09/2018

As manifestações das mulheres contra o candidato a Presidente Jair Bolsonaro, convocadas pelas mídias sociais e que aconteceram no dia 29 de setembro se constituíram em um fenômeno político e sociológico sem precedentes na história do Brasil, por diversas razões.
A forma original e extremamente eficaz como surgiu e organizou as manifestações é o primeiro aspecto a ser ressaltado. Vindas de um grupo de mulheres criado no Facebook há menos de um mês e que hoje alcança mais de 3 milhões de membros, é como se tivesse surgido a partir do nada e, ao mesmo tempo, como se sempre tivesse existido!

A diversidade e o tamanho das manifestações, sobretudo se compreendidos em relação ao pouquíssimo tempo e à quase nenhuma estrutura utilizada nas convocações e nos próprios atos, também são mais do que surpreendentes. E não adiantou a Rede Globo, em seu parcial e tendencioso Jornal Nacional, tentar mostrar imagens de manifestações ocorridas no mesmo dia 29, a favor de Bolsonaro, pois o número de participantes das manifestações contrárias, que segundo estimativas reuniram em torno de um milhão de pessoas em todo o Brasil, foi esmagadoramente superior àqueles presentes em eventos a favor dele.

Entretanto, o que nos parece mais importante ressaltar, neste momento, é que o ato contra Bolsonaro na verdade não foi propriamente contra ele, e nem mesmo contra sua candidatura: Foi uma reação legítima popular contra a tempestade de grosserias, violências, discriminações e agressões que vitimaram milhões de brasileiros e brasileiras ao longo dos últimos meses.

Primeiro porque a sexualidade das pessoas é, em regra, uma questão única e exclusivamente delas. Não cabe ao Estado, nem ao patrão, nem às igrejas, nem a partidos ou grupos ideológicos cercear opções que são eminentemente privadas, e menos ainda agredir e segregar pessoas em função de tais escolhas.

Além disso, a agressividade que permeia a campanha de Bolsonaro constrange de fato: São dedos apontados em forma de armas, hoje supostamente contra os “bandidos”, mas que se chegarem ao poder estarão mirando contra qualquer um que venha a discordar deles; são elogios desumanos à tortura, a ferir como uma bofetada a cada pessoa civilizada; são posicionamentos que magoam profundamente a quem é pobre, negro, favelado, excluído, mulher, homossexual ou de qualquer orientação política ou social que não esteja de acordo com aquilo que os seguidores de Bolsonaro defendem como verdade absoluta e inquestionável.

Como se sente a mãe de um jovem da periferia ante as ameaças aos seus filhos? Como se sente um homossexual, obrigado a esconder e negar diuturnamente suas opções de vida? Como se sente alguém que seja esquerdista, progressista ou simplesmente democrata, ante a defesa da ditadura e da tortura como meio de ação política? Como se sente o negro que ouviu dizer que alguém como ele deve pesar umas sete arrobas?

Como se sente a mulher a quem foi dito que deve ganhar menos, mesmo assumindo responsabilidades e produzindo tanto quanto um homem? Como se sentem aqueles que acreditam, verdadeiramente, que somos irmãos em Cristo, ante tanta agressividade e violência com o objetivo de excluir e degradar aos nossos irmãos em condição social mais frágil?

Não, não foi contra Bolsonaro. Foi contra tudo aquilo que sua candidatura representa, e que a maioria da sociedade brasileira e do mundo desenvolvido repudia, por ser incompatível com o sentimento de respeito, de inclusão e de paz social que deverá nortear o futuro da humanidade.

Publicado em 01/10/2018 no Blog do Gusmão

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