O ATAQUE AO GRUPO MULHERES CONTRA BOLSONARO.


É de conhecimento público e geral que foi criado, no Facebook, um grupo de mulheres que se mobilizam abertamente contra a candidatura de Jair Bolsonaro à Presidência da República, denominado Mulheres Unidas Contra Bolsonaro.

Surgido a partir da iniciativa de mulheres baianas, o grupo se mostrou um fenômeno de adesão e crescimento. Em poucos dias atingiu a marca de 700 mil membros. No fim da semana passada passou de um milhão de pessoas e, segundo a última informação que tivemos, já contava com mais de dois milhões de mulheres associadas, e se encontrava agendando manifestações de cidadãs na cidade de São Paulo e em mais 40 cidades de 10 estados brasileiros, para serem realizadas no próximo dia 29 de setembro.

Entretanto, para surpresa e indignação não só das mulheres como de parcelas bem mais amplas da sociedade, o grupo foi hackeado, invadido por criminosos digitais, e teve seu nome alterado para algo como Mulheres com Bolsonaro; e as criadoras e administradoras do grupo também sofreram ataques digitais e foram substituídas, no grupo, por alguém de perfil masculino, em uma clara iniciativa de destruir todo o trabalho feito até então, que culminou com a desativação temporária do grupo no Facebook, neste fim de semana (fonte: https://congressoemfoco.uol.com.br/eleicoes/grupo-de-mulheres-contra-bolsonaro-e-invadido-e-suspenso-do-facebook/).

Neste delicado momento em que vivemos, de radicalismo e intolerância, faz-se necessário analisar de forma mais ampla os fatos acima.

Em primeiro lugar, não se tratou de um ataque digital contra um grupo, tão-somente, mas de uma agressão gravíssima a um dos mais importantes setores de nossa sociedade, formado pelas mulheres e apoiado por milhões de outras pessoas, ocorrido justamente no período eleitoral, quando os direitos de manifestação das ideias e do pensamento previstos na Constituição Federal, artigo 5º, incisos IV e IX, devem ser mais valorizados e respeitados.

Quem hackeou e deletou o grupo Mulheres Contra Bolsonaro praticou um gravíssimo atentado contra a democracia brasileira e contra grande parcela de nosso povo, que tem de ser devidamente apurado e punido.

Mas a análise do fato em questão vai muito além disso.

A ação criminosa contra o grupo que manifesta legitimamente a vontade política das mulheres brasileiras expõe a forma de conduta e os métodos de ação política típicos das mais vis ditaduras, dos regimes intolerantes, autoritários e antidemocráticos: o uso de ações criminosas e da violência como meio de ação política.

O ataque em questão também é sintomático do que deveremos ter no Brasil caso pessoas como Bolsonaro cheguem ao poder: o fim até mesmo das liberdades mais simples, como formar um grupo na internet, publicar nas redes sociais, interagir e ter amigos digitais, passando a ser monitorado no que publica, no que manifesta, no que pensa e expressa até para seus amigos mais íntimos.

Portanto, aqueles que defendem o retorno de regimes ditatoriais, que se preparem para viver sem poder manifestar sua opinião na internet, sujeitos a sofrer retaliação inicialmente digital e, logo em seguida, física. Esqueçam seus direitos de escolher artistas, de livre manifestação do eu, de externar até mesmo uma simples queixa ou descontentamento.

Nas ditaduras, só se pode manifestar o que interessa ao governo, só o que é a favor deste. O resto é tratado com o uso da força, da ilegalidade, da repressão.

Se você deseja o retorno da ditadura, então esqueça que você tem direitos.

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