AS BANANAS DE BOLSONARO

Neste sábado, dia 15 de fevereiro, o Presidente Jair Bolsonaro deu uma “banana” para os repórteres que se dirigiram a ele quando trabalhavam em frente ao Palácio da Alvorada, em Brasília, após ser questionado sobre o desmonte da Biblioteca da Presidência da República para que no mesmo local fosse instalado um gabinete para abrigar a equipe de um programa que tem à frente a esposa do Presidente, Michelle Bolsonaro.
O ato presidencial não é inédito. No dia 08 deste mesmo mês, portanto a menos de uma semana, o titular da Presidência já tinha feito este mesmo gesto para outro grupo de jornalistas, ao sentir-se incomodado por conta de uma pergunta sobre um pronunciamento seu, associado à questão dos portadores de HIV AIDS.
Importante frisar que ao dar “bananas” para a imprensa, não é só a ela que o Presidente se dirige, mas às liberdades e garantias democráticas que a imprensa encarna, e para as quais é um dos mecanismos essenciais. Sem imprensa livre não há Democracia e, no caso em tela, tendo em vista que tal atitude provém de um ocupante da Presidência da República, passa a não haver também o mínimo de respeito indispensável para uma convivência civilizada.
Imaginemos que o gesto da Presidência passe a ser modelo de conduta para a nação: Empregadores que se sentirem incomodados darão bananas para seus subordinados, e os maridos, em atitude similar, agirão da mesma forma com esposa e filhos. Isto quando estiverem em público, pois nos rincões afastados do interior do Brasil, onde não há câmeras para documentar nem vozes para denunciar, a banana poderá ser substituída por uma boa bofetada, a ser desferida por um usineiro contra um trabalhador avulso, ou por um namorado contra sua companheira, no recesso dos locais sem testemunhas.
As bananas que o Presidente dá, a torto e a direito, não desqualificam somente a ele mesmo: desmoralizam e acanalham ao Brasil inteiro, que se vê constrangido a assistir às baixarias protagonizadas por quem deveria ser modelo de conduta pública ou, ao menos, discreto em suas tendências infelizes.
Na verdade, cada vez mais evidencia-se o total despreparo técnico e emocional, o total desequilíbrio do ocupante da Presidência, que deu durante a campanha e continua dando após a posse todos os sinais possíveis de que não possui as condições mínimas para ocupar o cargo em que se encontra.
Percebamos que o Presidente da Câmara e do Senado não agem assim. O Presidente do Supremo Tribunal Federal jamais faria um gesto como este. Um CEO ou alto executivo de uma empresa de modo nenhum agiria assim, pois perderia a confiança e o respeito dos acionistas da empresa. E mesmo um pequeno empresário, em sua convivência social cotidiana, não se atreveria a fazer tal gesto, pois sabe que ao fazê-lo está autorizando que o tratem com o mesmo baixo nível, expondo-se a situação que qualquer pessoa normal evitaria.
Somente nosso Presidente da República continua agindo como um adolescente infantil, mimado e desequilibrado de 16 ou 17 anos, expressão que utilizamos para que possamos nos manter dentro do limite da crítica política respeitosa.
Por fim, ao dar bananas para a imprensa, Bolsonaro desqualifica também a todos os que votaram nele e, de forma especial, a todos que insistem em defendê-lo incondicionalmente, sem conseguir fazer a autocrítica que tanto cobram com relação aos outros.
As bananas de Bolsonaro fazem com que acabemos por perder o respeito não só por ele, mas, de forma reflexa e indesejável, desmoraliza e avilta junto a nós a pessoa de todos os que o defendem apaixonadamente, despertando em nós o desejo de nos afastarmos, para que possamos manter o mínimo de respeito não somente a quem age desta forma, mas principalmente a nós mesmos.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz
Publicado no Blog do Gusmão em 17/02/2020.

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