ONDE ESTÃO MEUS ALUNOS(AS)?

No início foi bom, quando as turmas nas salas de aula deixaram de ter 60 ou mais alunos, como ocorria com tanta frequência nas décadas de 1980 e 1990, no IME Centro e no Colégio Estadual de Ilhéus, e passaram a ter cerca de 45. Com algo em torno de 40 pessoas as salas ficavam cheias, lotadas, mas tinham capacidade para acomodar àqueles que buscavam na Escola uma forma de avançar na batalha da vida.
Em uma turma de segundo grau, ou ensino médio, quando temos cerca de 45 adolescentes e/ou adultos jovens e mais algumas pessoas com mais idade, porém todos focados na aprendizagem, pode-se trabalhar bem quanto ao desenvolvimento da aula, embora haja uma sobrecarga quanto à correção de provas e trabalhos e ao lançamento das notas na caderneta. É suportável, sem ser contraproducente.
Ocorre que aqui em Ilhéus, tanto nas escolas estaduais quanto nas municipais, de cerca de 15 anos para cá, começou a haver um esvaziamento progressivo das salas de aula, paralelamente a inúmeros outros problemas relacionados ao ensino público, passando a ser comum turmas com 15 a 20 alunos, ou menos. E de dez anos para cá, tornou-se absolutamente comum ter turmas com cerca de dez alunos ou menos do que isso: oito, seis, onze alunos frequentando. Uma de minhas turmas do curso noturno, neste semestre (2019.2) tem apenas sete alunos, que embora assíduos e interessados, deixam ao fim de cada aula uma sensação de que poderíamos compartilhar o ensino-aprendizagem com um número bem maior de pessoas.
O que aconteceu? Para onde foram estes jovens, se a população de Ilhéus hoje é maior do que nas décadas de 1980 e 1990? Onde estão meus alunos e alunas?
Conversando com colegas da Educação sobre isso, alguns argumentaram que hoje há mais outras escolas distribuídas em Ilhéus; que as formas de se concluir os ciclos de ensino fundamental e médio agora admitem mais opções, tais como uma boa nota na prova do ENEM, e outros argumentos, que podem explicar em parte o atual esvaziamento das salas mas que, para mim, não elucidam o porquê de tão grave ausência de alunos nas escolas.
Não encontro mais os jovens nas salas de aula. Mas os encontro ociosos pelas ruas. Vejo-os no crime e nas drogas. Vejo-as na prostituição, senão tradicional, mas nas formas mais dissimuladas e cada vez mais presentes em nosso meio, submissas e dependentes. Vejo-os integrarem a geração nem-nem, ou seja, dos que não trabalham nem estudam, o que é tão comum tanto nas famílias ricas quanto nas famílias pobres de hoje, e isto estourará como uma bomba sobre tais jovens quando os pais que os alimentam deixarem de existir, carregados pela cronologia da morte, que tende a levar aos pais antes dos filhos.
Onde estão meus alunos, meus jovens? E onde estará o futuro de cada um deles?
A vida é cruel com quem não aproveita as oportunidades que tem. Como estes jovens sobreviverão no futuro, sem instrução, sem qualificação, em um mundo tecnologizado, em que os serviços braçais desaparecem, tragados pelo avanço tecnológico das máquinas? Como sobreviver em um mundo que exige cada vez mais formação, sem ter o básico de Educação formal, de cultura, de escolaridade?
Alerto aos jovens, às famílias, e a quem mais tenha cabeça para pensar e ouvidos para ouvir: Fora da Educação não há solução! Mesmo a posse de bens e dinheiro, quando não se faz acompanhar do saber, do entendimento, da sensatez, da instrução e da Educação pode se converter em meio para que a pessoa se perca nas vaidades, nos excessos, na insensatez brutal e embrutecedora, que conduz à miséria, senão material, mental e moral, desgraçando existências.
Jovem, agarre a Escola, e estude. Quando seus pais faltarem, é com o que você aprendeu que terá de enfrentar a vida. E será só, somente você, sozinho.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Publicado no Blog do Gusmão em 26/09/2019.

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