CORONA VÍRUS EM ILHÉUS: E OS TRABALHADORES DAS INDÚSTRIAS?

Sem dúvida, houve avanços nas últimas horas em Ilhéus, com relação ao combate à disseminação do Corona Vírus, e isto começou a acontecer com mais visibilidade hoje, quando o comércio fechou às 15:00 horas para não reabrir amanhã nem nos próximos quinze dias, ressalvadas as atividades essenciais; fato acompanhado pela suspensão do serviço de transporte coletivo urbano, que ocorrerá a partir da meia-noite de segunda para terça-feira, tudo em obediência ao Decreto nº 20, de 22/03/2020, publicado pelo poder Executivo do Município de Ilhéus.
Outras medidas importantes também constam do mesmo Decreto acima, e constituem passos importantes para o enfrentamento da crise gerada pelo Covid-19, porém, obviamente, não esgotam todas as questões relacionadas à prevenção da disseminação do Vírus.
Há setores de nossa sociedade que parecem ser dotados de invisibilidade, ou que, aparentemente, podem ser ignorados quanto à biossegurança e respeito à vida que lhes é devido, mesmo se tratando de trabalhadores que contribuem ativamente para a geração de renda e sobrevivência econômica de nosso Município.
Referimo-nos, neste caso, aos trabalhadores do ramo industrial, seja quanto aos do Polo de Informática de Ilhéus, seja quanto aos que trabalham na indústria da Construção Civil ou em outros setores industriais de igual ou maior importância em nossa cidade.
Talvez por trabalharem longe do Centro comercial da cidade, em grandes fábricas e galpões situados no Distrito Industrial de Ilhéus, ou em canteiros de obras devidamente isolados por tapumes, e por assim ficarem longe dos olhos da maior parte da população, os trabalhadores industriários simplesmente não constaram do Decreto Municipal que protegeu a saúde dos demais trabalhadores urbanos em Ilhéus.
Como não houve determinação do Poder Público para que as indústrias não essenciais paralisassem suas atividades em respeito à integridade da saúde e à vida de seus trabalhadores, a grande maioria das empresas que integram os setores acima – ressalvadas algumas poucas exceções – simplesmente optaram por continuar as atividades normalmente, como se estivéssemos vivendo dias normais, expondo seus funcionários a ter de sair para as ruas e a realizar serviços que, neste momento, não são essenciais.
Forçar os trabalhadores das indústrias a trabalhar a partir de amanhã, quando quase todos os demais ficarão em suas casas, contraria diretamente as determinações do Ministro da Saúde do Governo Federal, que a todo momento diz nas redes sociais e nos grandes meios de comunicação que todos devem permanecer em casa, para reduzir a curva ascendente do contágio que acontecerá, buscando assim diminuir as consequências do colapso que o Sistema de Saúde brasileiro enfrentará em dias muito próximos, com trágicas consequências.
Sair da periferia, pegar uma van disponibilizada pelas empresas em que trabalham, respirando ali, trancados, o mesmo ar, para em seguida trabalharem juntos em tempo integral, comerem no mesmo refeitório, usarem os mesmos banheiros e, ao final do dia, retornarem abafados nas mesmas vans que os levaram pela manhã, se mostra um risco desnecessário e de consequências potencialmente fatais para os referidos trabalhadores e, quando do retorno para suas casas, para seus familiares, muitos destes idosos ou portadores de alguma enfermidade debilitante.
Ainda é possível corrigir, com a devida urgência, essa lacuna presente nos decretos que o Poder Público de nosso Município editou, mediante a publicação de um novo decreto determinando que, assim como ocorreu no setor de comércio e de serviços, somente permaneçam funcionando as indústrias que sejam de fato essenciais, em inadiável respeito à integridade física, à saúde e à vida dos trabalhadores das indústrias e de cada membro de suas famílias.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz
Publicado no Blog do Gusmão em 24/03/2020.

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