CARNAVAL 2020 EM ILHÉUS

Todos os anos, após o Carnaval, faço uma análise dos aspectos que envolveram a festa do Rei Momo em Ilhéus: atrações, segurança, ornamentação pública, participação popular, blocos presentes no desfile, violência, limpeza urbana no local, localização e disposição do circuito do carnaval e das barracas são alguns dos aspectos que este folião e escriba não deixa escapar às suas atentas observações, diurnas e noturnas.
Este ano, mais uma vez, nada terei para observar quanto ao carnaval em Ilhéus, ao menos no que diz respeito à parte que caberia a Poder Público Municipal, porque em Ilhéus não haverá programação oficial de carnaval.
Infelizmente, esse tipo de conduta por parte dos gestores municipais tem se tornado cada vez mais frequente: nada falam desde o fim do ano anterior até quase a véspera da maior festa popular do Brasil, para nos dias de antevéspera anunciar que não teremos carnaval e dar por encerrado o assunto, frustrando tanto aos foliões quanto a quem quer e precisa ganhar dinheiro, desde o humilde catador de latinhas ou vendedor ambulante até empresas como hotéis e agências de turismo.
Municípios como Salvador, Porto Seguro e Itacaré, para tomarmos exemplos daqui do estado da Bahia, simplesmente não podem ficar sem carnaval, porque isto faz parte da vida, da cultura e da economia das cidades e do povo. E Ilhéus, neste aspecto, não é diferente. As belezas naturais, a vocação turística e a falta de alternativas econômicas nos empurram, naturalmente, em direção ao turismo como opção a ser efetivada.
Claro que hoje não cabe mais na realidade de Ilhéus gastar milhões de dinheiro público contratando grandes atrações a peso de ouro. Mas podemos fazer algo que seja mais regional, mais voltado para a cultura, para a participação popular, com atrações regionais, muitos blocos populares, afros e afoxés, além de espaço para artistas locais.
Também pode ser uma boa iniciativa começar a programação, todos os dias, no turno da tarde, para também acabar mais cedo, em torno de meia noite, como forma de conter ou diminuir a violência que está sempre presente nas festas populares.
As alternativas são diversas, e o carnaval permite inovações, ideias novas e mais ousadas, que não necessariamente impliquem em grandes gastos.
Por fim, não me venham com essa história de carnaval na Ponta da Tulha, nem bloco A ou B, por mais que tenhamos locais e entidades com tradição de alegria e participação no carnaval de Ilhéus. Ao povo e às organizações carnavalescas cabe fazer a sua parte, porém o Poder Público do Município deve, igualmente, fazer o que lhe compete, e que ninguém, ninguém mesmo pode fazer em seu lugar, pois não possui nem mesmo possibilidade legal de tomar para si o papel que cabe ao Poder Público.
Ano que vem teremos eleições municipais. Não sabemos quem será o prefeito, nem qual será sua futura equipe de apoio. Mas desejamos sinceramente que, seja lá quem for que venha a ocupar estes espaços – e isto vale tanto para um novo prefeito como no caso de uma reeleição – haja uma renovação de conduta com relação às gestões que tivemos em Ilhéus nos últimos 20 anos, mediante a implementação de planejamento, divulgação e adoção de políticas que favoreçam o turismo em Ilhéus, que tem no carnaval uma atração indispensável, principalmente para dar alegrias, oportunidades e novas esperanças de uma vida melhor para nós ilheenses.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Publicado no Blog do Gusmão em 22/02/2020.

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