BOLSONARO E A JORNALISTA: ATÉ ONDE IREMOS COM ISSO?

É de conhecimento de todo o Brasil o recente pronunciamento do Presidente Jair Bolsonaro ao referir-se à repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de São Paulo, afirmando que “ela queria dar um furo”, feito na manhã do dia 18/02/2020, em frente ao Palácio da Alvorada, ao comentar fatos relacionados a uma CPI.
Não é a primeira, nem a segunda, nem a centésima vez que o Presidente se comporta de maneira extremamente desrespeitosa, grosseira e discriminatória com relação a pessoas ou situações que o incomodam. Tal procedimento, assim como as “bananas” direcionadas em duas ocasiões a repórteres, fazem parte da forma de agir, são intrínsecas ao comportamento cotidiano do atual mandatário maior da nação.
Quase não chocam mais, quase não provocam mais comoções as grosserias, sandices ou mesmo bobagens que o Presidente fala, e que se tornaram normais a ponto de muitas pessoas esperarem a “besteira do dia” dita por Bolsonaro, da qual conseguem dar risadas, mas que a mim e a outros milhões de brasileiros causam profunda tristeza e desgosto.
Esclareço que não votei em Bolsonaro, e fiz campanha para que não fosse eleito. Mas se ganhou a eleição e ocupou a Presidência da República, que se porte de maneira minimamente adequada, sem envergonhar o Brasil, sem piorar ainda mais o destino de milhões de brasileiros e sem dar mais maus exemplos vindos de cima do que já temos.
Vendo a conduta do Presidente, suas atitudes, suas palavras, seu comportamento grosseiro, cínico e debochado – tal como no episódio relacionado à repórter da Folha – como não se sentirá encorajado a agir um policial que aborda um jovem da periferia à noite? Fará a revista padrão, exercendo com dignidade seu papel de polícia, ou passará a dar murros e pontapés, como temos visto alguns fazerem aqui mesmo na Bahia?
Como agirão os homens, em face de suas namoradas ou esposas, sempre mais delicadas e frágeis em razão da própria natureza feminina, quando comparadas à compleição física do homem?
Como agirá um chefe diante de uma estagiária, de uma trabalhadora temporária, de uma mulher que precisa do emprego desesperadamente para sustentar seus filhos?
Como se sentirão incentivados a agir os cabos de turma, capatazes ou patrões diante de peões humildes, mal alfabetizados e desamparados pela Lei?
Como agirão os patrões de empregadas domésticas no recesso do lar, onde nunca há testemunhas, mediante tais exemplos de truculência e falta de limites?
Nossos filhos e filhas saem para procurar emprego, estagiam, iniciam suas vidas profissionais. É alguém com o perfil de Bolsonaro que queremos para ser o chefe de nossos filhos e, principalmente, de nossas filhas?
Onde chegaremos, em pleno Século XXI, pleno de novas tecnologias e avanços científicos, com comportamentos tão atrasados, tão anacrônicos, tão grosseiros e opressivos, a ponto de humilhar publicamente, entre risos, àquelas pessoas que se encontram em um degrau inferior na escala das posições sociais?
Não se trata mais só de política. Trata-se de dignidade, de respeito, de saúde física, mental e emocional, que todos nós precisamos ter para que nossas vidas prosperem, frutifiquem, avancem.
Trata-se de livrarmo-nos do atraso, da estupidez, do que é inconcebível, para que nós possamos voltar a ter um mínimo de respeito mútuo e de normalidade.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Publicado no Blog do Gusmão em 19/02/2020.

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