E SE O PRESIDENTE FOSSE MOURÃO?

No início destas linhas quero, desde já, expressar o máximo respeito pelas leis de nosso país, pelo resultado da última eleição para Presidente da República e pela pessoa do Sr. Jair Bolsonaro. Mas respeitar não significa fechar os olhos para a realidade, nem deixar de sonhar com um Brasil melhor.
Toda a nação brasileira assistiu, na noite de ontem, ao pronunciamento do Presidente Bolsonaro, no qual ele defendeu o fim da quarentena e o retorno ao trabalho e às aulas, culpando a imprensa e os governadores dos estados pelo que considera alarmismo e minimizando a pandemia que está matando milhares de pessoas pelo mundo, ao chama-la de “gripezinha” e “resfriadinho”.
As palavras do Presidente contrariam frontalmente tudo o que a ciência diz e o que foi aprendido no enfrentamento do Covid-19 até então. Somente as políticas de isolamento têm se mostrado eficazes no sentido de frear o altíssimo índice de contágio da doença e a rapidez impressionante de sua propagação, o que se torna crucial ante a inexistência de vacinas, de medicamentos eficazes e, sobretudo, de leitos e pessoal em quantidade suficiente para atender aos casos mais graves, o que aumenta demasiadamente as chances de morte entre estes últimos casos.
O Presidente não anunciou a destinação de verbas para enfrentar a pandemia, nem de mais leitos de UTI, nem de compra de ventiladores pulmonares, nem de contratações emergenciais de pessoal especializado, nem de montagem de hospitais de campanha, nem nada associado à prevenção ou tratamento da doença e de seus efeitos gravíssimos, que era o que a nação esperava e precisava, de forma urgente. Em lugar disso, apenas fanfarronices, como se ainda estivéssemos na campanha eleitoral.
Acima de tudo, o pronunciamento presidencial de 25 de março deixou claro o que já vinha se delineando, no mínimo, desde a posse de Bolsonaro: que ele não demonstra ter equilíbrio emocional, nem condições psicológicas – e talvez mentais – para dirigir uma nação, sobretudo em momento de tamanha gravidade. As reiteradas bananas para a imprensa, as constantes brigas com todos os Poderes da República e até com seus apoiadores mais fervorosos, a forma como fecha os olhos quando seus filhos interferem desastradamente nos mais importantes assuntos do Estado brasileiro são elementos que apontam nessa direção.
Sinceramente, é difícil saber qual seria o melhor caminho para o Brasil em um momento tão grave como este que vivemos.
No entanto, como sonhar ainda é permitido, externo aqui, como desabafo, aquilo que nesse momento repercute em minha alma, para dizer algo que nunca pensei que falaria, mas que, agora, vejo com novos olhos com relação ao nosso país.
Ante tudo isso que estamos vivendo, eu gostaria muito que o atual Presidente do Brasil tivesse sido o General Mourão Filho, atualmente na Vice-Presidência, pois embora esteja muito distante do perfil que almejo para a Presidência, o atual Vice parece reunir muito mais condições de levar o país adiante, de agir com racionalidade, de tomar decisões acertadas, de gerir crises, enfim, de neste estado de coisas absolutamente excepcional, desempenhar a função de Presidente da República.
Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.
Publicado no Blog do Gusmão em 25/03/2020.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

BOLSONARO E A JORNALISTA: ATÉ ONDE IREMOS COM ISSO?

O TRABALHO ESCRAVO E A PROPOSTA DE EXTINÇÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO E DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO

O QUE TEMOS PARA OS JOVENS DA PERIFERIA?