OS ASSASSINOS DE MARIELLE E A FAMÍLIA BOLSONARO






O Brasil amanheceu, no dia 12 de março de 2019, com a notícia da prisão de dois dos três ocupantes do veículo de onde se originaram os disparos que mataram a vereadora e ativista Marielle Franco e seu motorista, ocorrido no Rio de janeiro, em 14/03/2018.

Trata-se do sargento PM reformado Ronnie Lessa, que teria sido o autor dos disparos; e do ex PM Élcio Queiroz, que estaria dirigindo o veículo onde os assassinos se encontravam.

Embora tardia, a prisão é, sem dúvida, um fato da maior importância, pois além de aproximar a perspectiva de punição dos possíveis autores do duplo homicídio, abre maiores possibilidades para que se chegue aos mandantes do crime.

Entretanto, chama muita atenção a notícia de que o acusado de ter efetuado os disparos more e tenha sido preso em sua casa, situada em um condomínio na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro onde também mora o Presidente Jair Bolsonaro.

Quem já morou em uma grande capital, como Salvador, Rio de janeiro ou São Paulo, sabe o quanto é difícil acontecerem determinados tipos de coincidência. Não é como nas pequenas e médias cidades, que existem aos milhares em nosso país, onde todos podem conhecer e estabelecer algum tipo de relação ou mesmo ouvir falar, ainda que vagamente, de determinada pessoa, relativamente anônima, que resida na mesma cidade. Nas grandes metrópoles isso, definitivamente, não ocorre.

Por outro lado, a absoluta inapetência de Bolsonaro para governar e sua avassaladora capacidade de, mediante seus pronunciamentos pessoais ou via Twitter, gerar crises, problemas e prejuízos, certamente fazem com que aquele núcleo de poder que o elegeu deva ter agora um único pensamento em mente: livrar-se dele, da forma menos traumática, porém o mais rápido possível.

Bolsonaro, para este núcleo de poder, já cumpriu seu papel. Já impediu a eleição de um candidato da esquerda e também já colocou no cargo mais alto da República, e com maioria no Congresso Nacional, o grupo que bancou sua campanha. E na política quem não tem mais utilidade e causa problemas deve ser descartado. Simples assim.

Não cabe aqui dizer que o Presidente ou algum de seus filhos tenha algum envolvimento com os assassinos de Marielle. Mas esta hipótese também não pode ser descartada. Se não se pode afirmar, também não se pode excluir tal possibilidade.

O fato é que, com ou sem envolvimento dos Bolsonaro com o suposto assassino de Marielle, está criado o ambiente perfeito para que o próprio grupo que o colocou no poder tenha, agora, a oportunidade perfeita para livra-se do incômodo Presidente, seja via renúncia após pressões; seja afastando-o, caso haja suspeita fundada de envolvimento de algum membro da família com o crime.

Finalizo dizendo que tudo isso me causa imensa tristeza. Não votei nem voto em Bolsonaro, mas não tenho a menor alegria, a menor satisfação de ver a disputa em torno da Presidência e dos destinos do Brasil ser tratada ao nível de um crime covarde de ex militares contra uma mulher e um trabalhador indefesos. Tudo isso me causa imensa tristeza, imenso desgosto, forte sentimento de desesperança, contra o qual luto todos os dias, e me pergunto a cada hora: Quando este pesadelo vai acabar?

Não foi publicado - inédito. Escrito em 12/03/2019.

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